Dia 12 – Um conto
Taí que nessa eu empaquei. Hehehehe. Não sou muito fã de contos. Daí fiquei pensando em qual poderia colocar se nunca li nenhum. Fui na minha estante mágica (não tão mágica quanto eu queria), e peguei um livro de contos que lembrei ter ganhado há um ano, na aula de Lingua Portuguesa, do meu maravilhoso professor Batista de Lima. Qua ele não saiba, mas peguei o livro e enterrei na estante, de onde até hoje nunca havia saído. Sinceridade? Não me empolguei pra ler. Coloquei de volta lá. Aff.
Vamo então pra net. Santa net que me ajuda sempre. Vi o nome Luis Fernando Veríssimo. Ele é o cara, né gente? Daí lembrei que eu já havia lido um livro de contos sim, há uns aninhos (sem detalhes) atrás, e pasmem, gostei!! Contos não são tão chatos quanto tinha em mente. Tanto é que li, e gostei!
As Mentiras que os Homens Contam, são constos tão engraçados e tão possíveis que gamei. Devorei o livro em pouquíssimo tempo.
Pois bem, destes contos tem um de que me lembro até hoje. É engraçado. Sem mais delongas, aí vai (sem formatação mesmo... preciso fazer a sopinha do Noah):
A aliança
Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo.
De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a
ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central
ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se
no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim.
Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro.
Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos
os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já
sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos
dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na
loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele
encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o
macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jangal dos seus
sonhos de infancia, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que
provavelmente não funcionaria, resigna‡áo e reticências... Conseguiu
fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava
fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de
óleo e caiu no cháo. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto,
mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava
e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais
ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro
e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou
a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes
de ela fazê-las.
- Você não sabe o que me aconteceu!
- O quê?
- Uma coisa incrível.
- O quê?
- Contando ninguém acredita.
- Conta!
- Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?
- Não.
- Olhe.
E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.
- O que aconteceu?
E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A
aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o
bueiro e desaparecendo.
- Que coisa - diria a mulher, calmamente.
- Não é difícil de acreditar?
- Não. É perfeitamente possível.
- Pois é. Eu...
- SEU CRETINO!
- Meu bem...
- Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei que aconteceu com
essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um
programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar
uma história em que só um imbecil acreditaria.
- Mas, meu bem...
- Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum
motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!
E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações.
Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito transito. Por
que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:
- Que fim levou a sua aliança?
E ele disse:
- Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto.
Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu
compreenderei.
Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu con a porta.
Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava um crise no
casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.
- O mais importante é que você não mentiu pra mim.
E foi tratar do jantar.
Bjus
Vevé
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